Gênero, arte e cidadania no Mucuim 

O Coletivo artístico-cultural MucArt discutiu aspectos do machismo e do racismo impregnado no cotidiano dos assentamentos rurais, perspectivando questionar as construções sociais e culturais que alimentam essas bases opressoras, desconstruindo preconceitos e discriminações com a mediação da arte. 

 

 

 

Sobre o projeto

Os assentamentos rurais, que compõem o território camponês, são resultantes de um conjunto de fatores organizativos, sociais e políticos, que conformam historicamente novos espaços de vida e sociabilidade, frente ao domínio estrutural da concentração do latifúndio e das suas formas modernas de expansão, tais como agronegócio, minério negócio e o hidronegócio.
As populações rurais historicamente sofreram com processos de violências e negações de direitos.

A conquista do direito a terra, através da política de reforma agrária, é a materialização de uma vida melhor no espaço do Assentamento, a qual se articula pelo processo contínuo de lutas coletivas pelo acesso aos direitos de cidadania, dentre eles o direito à educação, saúde e a cultura conforme propugna a Constituição Brasileira no seu artigo 215.

O campo tem sua realidade social atravessada pelas constantes mutações societárias, em que o cotidiano configura realidades políticas, sociais, culturais e de gênero, as quais são compreendidas enquanto relações sociais fundamentadas no exercício do poder, nos permitindo identificar os históricos e desiguais papéis exercidos por homens e mulheres na sociedade.

Nos assentamentos rurais, em que pese suas especificidades, persiste uma situação de ausência da autonomia e emancipação política, como resultado da tradicional da cultura patriarcal e racista, bastante arraigada na contemporaneidade.

As conquistas advindas da luta dos movimentos das mulheres trabalhadoras rurais pelos direitos de igualdade de gênero na titularidade da terra, e o acesso a créditos produtivos oriundos da política de reforma agrária e de desenvolvimento rural pelas mulheres, bem como, às políticas sociais, não implicaram em transformações estruturais nos tradicionais papéis de gênero e no enfrentamento ao debate do racismo, que numa dimensão da violência agudiza ainda mais as situações, quando pensamos as mulheres negras campesinas.

Conforme Boni (2005), a construção da identidade da mulher no campo teve e persiste sendo fortemente impregnada pelo patriarcado, qualificando o lugar social e político de mulheres em seu modo de vida, persistindo fortes traços da cultura patriarcal, expressas tanto no exercício do comando masculino nas decisões familiares, quanto no uso da violência de gênero.

Enfrentar as questões relativas às desigualdades de gênero e raça enquanto os persistentes traços culturais do patriarcado e do racismo na comunidade do Mucuim, manifestada entre outras dimensões no forte preconceito enfrentado pelas mulheres jovens, inibindo a sua participação na esfera pública, nos casamentos precoces e no silenciamento dos casos de violência, intensificados pela situação de raça, revelados no contexto de isolamento social, com o machismo, o sexismo, o racismo, bases opressoras.

Frente ao exposto o coletivo MucArte, realizou um conjunto de ações culturais/ educativas, que promoveram através da arte, de forma criativa e inovadora reflexões na perspectiva de desconstruir os papéis fixos de gênero, legitimados na sociedade capitalista, contribuindo para a afirmação de novas relações de gênero no meio rural, com atividades que buscaram trabalhar a autoestima das mulheres, e promover o empoderamento e exercício da cidadania. Bem como, ainda discutir os elementos do preconceito e discriminação étnico-racial presente nas relações cotidianas dos camponeses, de forma a elevar autoestima, e mobilizar o sentimento de pertencimento político-cultural.

Inserido no eixo da formação em políticas afirmativas realizou-se seminário, oficinas temáticas e exibição de filmes, recorrendo às várias linguagens artísticas e múltiplos suportes. Este espaço se configurou no cotidiano do Assentamento, como espaço de acolhida, afeto, e valorização das identidades.

As atividades foram realizadas de forma remota e presencial atendendo às recomendações estabelecidas pelo governo do Estado do Ceará no âmbito dos protocolos de segurança no combate ao novo coronavírus.

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